Depois de Ruhr

Autores

Palavras-chave:

James Benning, Ruhr, ecologia política, terapia cinética, cinema digital

Resumo

Ruhr (2009), um filme composto de sete longos planos-sequência sobre a vasta zona industrial do norte da Alemanha, é a primeira obra de James Benning na qual as possibilidades do formato digital desempenham um papel fundamental na estruturação rítmica do jogo cinematográfico. Por ‘jogo’, aludimos à capacidade performativa e modular do cinema, em particular o de cariz documental, o qual possibilita formas de interferência e afectação da nossa percepção sobre o real, alterando-a. Focando-nos no primeiro plano d e Ruhr, de quase 8 minutos de duração, invocaremos a sua importância seminal para uma ultrapassagem crítica da oposição das categorias natureza e cultura — oposição esta responsável, segundo Latour (2004), pelo grande equívoco da modernidade. Seguindo a definição de cinema enquanto “máquina de hipnose” (Bellour, 2009), especularemos sobre a existência de um novo paradigma de experiências cinematográficas — em que Ruhr ocupa um lugar capital —, no qual as estruturações rítmicas da matéria são capazes de activar a sobreposição entre o estado adormecido, qual perda de uma relação com o mundo exterior, e o estado hipnótico, em que o sujeito ‘adormecido’ pode estabelecer, por reconhecimento dos mecanismos de hipnose nos filmes, uma relação ecológica com o mundo físico exterior. No centro desta proposta, procuraremos identificar, nos novos modelos de “terapia cinética” (Neyrat, 2020), um princípio de conexão ritmicamente estabelecido entre formas humanas e não humanas, ou um elo entre as respectivas materialidades mundanas, capaz de promover a mutação da nossa relação com o mundo do século XXI — de tudo isto Ruhr nos dá nota.

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Publicado

2024-07-25

Como Citar

Florêncio, P. . (2024). Depois de Ruhr. Livros ICNOVA, 95–111. Obtido de https://colecaoicnova.fcsh.unl.pt/index.php/icnova/article/view/149