Imprensa portuguesa (1820-1864): da turbulência à estabilidade

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Resumo

Entre 1820 e 1864, a imprensa portuguesa foi abandonando o seu carácter artesanal e deu os primeiros passos rumo à industrialização, apesar da turbulência social registada entre 1820 e 1851. A solidificação dos jornais políticos foi o eixo principal do desenvolvimento da imprensa nesse período, podendo ser dado o exemplo do diário A Revolução de Setembro. A conquista da liberdade de imprensa, plasmada nos textos constitucionais, permitiu a solidificação desse segmento dos jornais impressos, sustentado por um modelo de negócio que ia buscar receitas às assinaturas, aos patrocínios privados e, mais residualmente, às vendas em banca. Ao tempo, os jornais politicamente orientados, que, na verdade, se foram tornando, cada vez mais, político-noticiosos, dominaram a imprensa e tinham forte impacto social. A paisagem jornalística, cuja segmentação se iniciou, em Portugal, no século XVIII, primou, no entanto, por uma crescente diversidade. As revistas, muitas delas ilustradas, como O Panorama, também tiveram forte presença no país, atingindo fatias consideráveis de um público mais diverso do que o dos jornais políticos. Apresentavam conteúdos ecléticos, que cruzavam a cultura com a promoção do conhecimento, mesclados, por vezes, com notícias da atualidade e propostas de entretenimento. Várias dessas revistas tiveram no enciplopedismo, primeiro, e no publicismo, depois, as suas linhas editoriais. Contudo, apesar de algumas tentativas de popularização da imprensa, por meio da publicação de periódicos de baixo preço, jornais e revistas circularam, principalmente, entre as elites masculinas alfabetizadas que tinham interesse e se envolviam nos assuntos públicos. Apesar da transição em curso para uma sociedade crescentemente urbana e pré-industrial, caracterizada por progressos na escolaridade, na industrialização, no investimento público na construção de infraestruturas e, enfim, na modernização do país, revistas e jornais eram bens caros, inacessíveis à generalidade dos portugueses e de difícil leitura e assimilação pelos menos letrados. A sua difusão colidia com a pobreza e com o analfabetismo da esmagadora maioria da população, arredada dos mecanismos de decisão política e dos circuitos culturais. Ainda assim, acompanhando a evolução da sociedade, o carácter artesanal de alguns dos empreendimentos jornalísticos foi cedendo à marcha dos tempos, perante a crescente aceitação de projetos jornalísticos mais sólidos, pré-industriais, alicerçados em empresas que, nalguns casos, adquiriram uma certa dimensão. No fim do período, o nascimento do Diário de Notícias representa, simbolicamente, a transição para um modelo de jornalismo industrializado, orientado para o mercado (jornalismo como negócio), que recuperou a notícia de interesse geral, facilmente assimilável mesmo por pessoas com défices de literacia, como matéria-prima dos jornais. A notícia tornou-se, no entanto, uma mercadoria. O novo modelo industrial e mercadológico de negócio jornalístico gerava receitas — e lucro — por meio da captação de anúncios publicitários. Indo buscar a fatia maior das suas receitas à publicidade, jornais e revistas puderam ser vendidos a baixo preço, fatores igualmente determinantes para o aumento da sua difusão e circulação e, de certa forma, para a sua independência.

 

Palavras-chave: história da imprensa; história dos jornais; história das revistas; Portugal (1820-1864)

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Publicado

2022-07-18

Como Citar

Sousa, J. P. (2022). Imprensa portuguesa (1820-1864): da turbulência à estabilidade. Livros ICNOVA. Obtido de https://colecaoicnova.fcsh.unl.pt/index.php/icnova/article/view/104